A maioria das empresas ainda não sabe o que fazer, como fazer ou sequer por onde começar. O próximo ano será apenas o aquecimento, porque o passivo começará a se formar em silêncio, enquanto muitos seguem acreditando que ainda há tempo.
Mas é em 2027, quando o fisco apertar o cerco, que a sobrevivência empresarial será realmente colocada à prova. Muitas organizações não conseguirão acompanhar a complexidade e a tecnologia deixará de ser apoio para se tornar a única tábua de salvação.
O novo modelo altera a incidência de impostos, os critérios de apuração, os fluxos de crédito e débito e a própria forma de integração com os fiscos federal, estaduais e municipais.
Isso impõe um desafio técnico imediato para atualizar sistemas e acompanhar mudanças constantes de regras, novas obrigações acessórias e integrações cada vez mais automatizadas com o governo. Mesmo com anúncios recentes de flexibilizações técnicas na implantação do IBS e da CBS, a legislação segue válida e exigível, independentemente dos ajustes operacionais promovidos pelo fisco.
A adaptação dos ERPs exige muito mais do que simples parametrizações. As regras fiscais passam a variar por tipo de operação, localização, natureza do serviço, enquadramento tributário e regime empresarial, tornando a lógica de cálculo muito mais complexa.
Empresas que operam com sistemas desatualizados ficam expostas a falhas de classificação fiscal, cálculos incorretos e inconsistências entre áreas. Sem integração plena entre fiscal, contábil e financeiro, o risco deixa de ser pontual e se torna estrutural.
O efeito é operacional e financeiro, com créditos indevidos, tributos pagos a maior e exposição crescente a autuações. Permitir a emissão sem validação automática não elimina o passivo; apenas o adia. Ele continua se formando diariamente, de maneira silenciosa.
A classificação incorreta de CFOPs, hoje uma das principais causas de inconformidade, tende a se agravar. Com novas regras por tipo de operação, qualquer erro de código afeta diretamente a apuração de impostos, o registro contábil e a geração de obrigações acessórias.
Um CFOP errado compromete a emissão da nota, a escrituração e o SPED, criando divergências entre o que foi faturado, contabilizado e declarado. Em ERPs mal integrados, o erro se replica em cadeia, gerando retrabalho e fragilidade nos dados utilizados em decisões estratégicas.
O desalinhamento entre fiscal e contabilidade, já problemático, pode se transformar em colapso. Se o ERP não refletir simultaneamente os critérios de tributação e seus reflexos contábeis, demonstrações financeiras passam a apresentar distorções relevantes, dificultando a conciliação e expondo empresas em auditorias.
As mudanças na tributação também impactam diretamente a emissão de NFe e NFSe. Falhas de parametrização geram rejeições, atrasos de faturamento e paralisação de operações. Empresas com alto volume de documentos sentirão primeiro o impacto da falta de modernização.
A não rejeição automática prevista para 2026 não reduz o problema, apenas o oculta até que surjam auditorias, retificações em massa e potenciais autos de infração.
A escrituração digital, talvez a área mais sensível, depende integralmente da qualidade da informação gerada na origem. Qualquer inconsistência se reflete imediatamente nos arquivos enviados ao governo. O risco é operar em um ambiente onde o erro só aparece quando já se transformou em passivo.
A ausência de validação imediata cria uma falsa sensação de normalidade. O descasamento entre o que foi emitido e o que deveria ter sido informado será cobrado no tempo do fisco, não no tempo da empresa.
Tecnologia como linha de sobrevivência fiscal
A Reforma consolida algo inegociável. A área fiscal não pode mais existir sem tecnologia. Decisões tributárias agora dependem da arquitetura dos sistemas. Quando não há diálogo técnico entre TI e fiscal, surgem ambientes apoiados em planilhas, processos manuais e remendos operacionais que multiplicam riscos. Como executiva, minha visão é clara.
Não existe mais espaço para flexibilizar a conformidade. As exigências já estão em vigor e não esperarão a maturidade das empresas para serem cobradas.
A Reforma Tributária não será operacionalizada em planilhas nem em sistemas obsoletos. Ela exige ERPs atualizados, motores fiscais confiáveis e integração contínua com os fiscos. Empresas que não derem esse salto enfrentarão aumento de custos, perda de competitividade e insegurança jurídica. As que investirem estrategicamente transformarão a complexidade tributária em vantagem operacional.
Modernizar sistemas passa a ser, mais do que cumprimento legal, uma questão de sobrevivência. Enquanto o cenário regulatório ainda se ajusta, quem se adianta opera com segurança. Quem espera, improvisa. A Reforma não é um evento futuro, ela já começou. E a diferença entre controle e colapso será definida pelas decisões tecnológicas tomadas agora.
Fonte: Jornal Contábil



